A harmonia dos opostos.
“As pessoas não entendem como o divergente consigo mesmo concorda…” A frase de Heráclito tem feito cada vez mais sentido para mim e é estranho pensar que pessoas tão distintas podem ter tanto em comum. Os mesmos sentimentos, as mesmas percepções e ás vezes, os mesmos pensamentos. Sinto um pouco disso com o meu grupo, agora sinto. Que bom saber que, afinal, não estou sozinha aqui, que o “outro” é tão importante quanto eu, que juntos podemos muito mais ou, simplesmente, nos proteger. Coisa de amigo, mesmo que estes amigos tenham se encontrado há menos de um mês.
Bom poder contar com as pessoas e contar para as pessoas aquilo que se sente e se deseja, imagina e espera ou aquela bobagem sem importância. Quando estamos distante do lar, da família, dos amigos, dos cachorros isso faz toda a diferença. A viagem começa com tantas experiências e aprendizados, tantas “tensões contrárias”, que o que resta é aguardar o dia de amanhã, com a fé de que tudo será para o bem de todos e desejando o bem de todos. O instante um dia será compreendido, senão foi percebido agora.
O divergente incomoda e é, realmente, muito mais fácil seguir. Não mudar. Não tentar. Não se excluir (ou excluir-se). Não fazer o que deve ser feito. Difícil é ir além, desejar mais, conquistar. Não que eu saiba o que é melhor, muito longe disso, mas tenho uma “certa noção” daquilo que é ético e verdadeiro, daquilo que deve sim ser feito e o mais importante, o respeito com o próximo, mesmo que o próximo não “mereça” o meu respeito (embora eu acha isso muito relativo, costumo seguir um velho conselho “dar a outra face”, pq a paz e o respeito são sempre os melhores caminhos para atingir qualquer coisa).
Nada é simples, para aqueles que complicam… Além de Heráclito, que está sendo um grande conselheiro, lembrei de José Régio e seu “Cântigo Negro”. Mais que perfeito:
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos docesEstendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre de minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
http://www.youtube.com/watch?v=j_R47aK-2kE&feature=related
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