Saber ficar sozinho

Em minha longa pesquisa sobre o assunto, cheguei à conclusão de que sentir-se bem mesmo estando só é resultado de uma organização psíquica bem estruturada e sólida. Por isso, aqueles que têm a mente sã sabem ficar sozinhos. Os doentes, os neuróticos, não.

Tudo começa na infância, no modo como vivenciamos a presença materna. A mãe equilibrada, segura de si, é capaz de demonstrar para a criança, por meio de sua presença, que ela é amada independentemente de seus pontos negativos e que nunca será abandonada.

Somente desta maneira é constituída a base de segurança interior, de confiança particular, que acompanhará todo o curso da existência humana em suas fases de juventude, idade adulta e terceira idade. Mas também é preciso saber apostar no mistério da vida, doando-se, comunicando-se, dando sentido ao que se faz, ao que se experimenta, ao que se vivencia. Em qualquer situação.

Não procuremos compensação em coisas exteriores, em razão de nos sentirmos sós. Não funciona! A solidão está em nosso íntimo. Lembremo-nos: não culpemos os outros, mas nosso coração.

Quando nos sentimos pouco à vontade, quando sofrermos por estar sozinhos, embora sabendo que a solidão faz parte de nossa natureza humana, olhemos para nosso interior e purifiquemos o coração. A sensação de isolamento vem de nós. Não dos outros.

“Conhece-te a ti mesmo”. A frase, esculpida em grandes caracteres no frontão de um templo grego, é uma das mais antigas e provocativas exortações à sabedoria do ser humano. Não existe viagem mais longa nem mais embaraçosa, mas também nenhuma aventura pode ser mais interessante e libertadora do que descobrir o que trazemos dentro de nós.

Valério Albisetti, em Serenamente sós.