Adoção – Preparação para o amor que transborda
O número de pessoas que querem adotar é dez vezes maior do que o de crianças que esperam ser adotadas. Com a nova legislação, entretanto, esse quadro poderá mudar
Taís González
Quase vinte anos depois do Estatuto da Criança e do Adolescente, o presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou, em 3 de agosto, a Lei nº 12.010/09, da senadora Patrícia Saboya (PDT-CE). A lei tem o objetivo de assegurar o direito de crianças e adolescentes à convivência familiar, admitindo-se a adoção apenas quando não for possível manter o menor junto à família natural ou extensa, esta formada por parentes próximos, como avós ou tios. Na perspectiva de preservação da identidade cultural, a lei garante a adoção de crianças indígenas ou oriundas de remanescentes de quilombos por integrantes de suas próprias comunidades. Entre outras mudanças, está prevista, também, uma preparação prévia dos futuros pais e o acompanhamento familiar pós-acolhimento da criança ou adolescente.
Um dos pontos fortes na nova legislação é a permanência de crianças e adolescentes nos abrigos de proteção por, no máximo, dois anos. Vencido o prazo, o juiz terá de decidir se ela volta para a família de origem ou se será encaminhada para adoção. Talvez o aceleramento nos processos contribua, efetivamente, para a diminuição do número desses jovens que esperam para serem adotados. Em todo o país, cerca de 3.500 crianças e adolescentes aguardam a adoção, sendo que mais de 22 mil pessoas esperam para serem pais, os dados são do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Para Hália Pauliv de Souza, coordenadora de cursos de preparação aos pretendentes à adoção em Curitiba (PR), mãe de duas filhas adotivas e autora do livro Adoção – exercício da fertilidade afetiva, adotar requer altos investimentos de preparação, afeto e emoção. “O envolvimento com o ‘eu interior’ é total, para que o filho tenha autoestima, amor-próprio e possa se realizar. É uma guerra constante, em que se travam batalhas para derrubar medos e preconceitos pessoais e sociais”, afirma. Ela diz ainda que a decisão de adotar uma criança pode ser como uma gravidez. “É um processo de gestação, um pouco diferente – gestação emocional, que oferece a segurança necessária para vencer as dificuldades e estabelecer os laços familiares, além de pressupor doação e responsabilidade.”
Se não preparada e estudada minuciosamente, a adoção pode se transformar em uma experiência traumática e assustadora. Ainda hoje, existe uma brecha na lei que permite a devolução do adotado caso a situação seja irreversível ou acontecer antes de o processo ser formalizado. Muitos dos casos terminam dessa forma, o que especialistas chamam de segundo abandono. Hália afirma não ser imprescindível que crianças ou adolescentes sejam gerados biologicamente para serem amados, mas é preciso que sejam gerados psicológica e emocionalmente para que os laços de afeto estabelecidos na adoção ofereçam segurança a pais e filhos. “Para que esse processo de ‘fertilidade afetiva’ seja bem-sucedido, os futuros pais precisam considerar a adoção em seus múltiplos aspectos: legais, psicológicos, financeiros, familiares e sociais”, explica a escritora.
"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" – O pequeno príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
Publicada na 7ª edição Revista Gazeta do Morumbi
www.gazetadomorumbi.com.br
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