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Saturday, August 17, 2013

Cadê a abelha que estava aqui?

 Estudos sugerem que pesticidas sintéticos contribuem para o desaparecimento de abelhas, 
mas não é só isso.
Por Taís González

Desde tempos primórdios, o homem utiliza o mel para alimentar-se. Produto cada vez mais raro e caro no mercado, dado ao misterioso desaparecimento de abelhas que ocorre no mundo. O fenômeno não é recente, nos EUA, a "doença" do desaparecimento das abelhas foi diagnosticada como Colony Collapse Disorder (CCD), em 2006. As abelhas deixam para trás cria, mel e tudo o que produzem, sem deixar vestígios.

As abelhas são responsáveis pela polinização de milhares de espécies de flores, assegurando o sucesso de inúmeras colheitas agrícolas. Até agora, não há consenso entre os cientistas sobre o motivo que teria ocasionado essa desaparição, mas sim sugestões, como o cultivo de monoculturas e a intensificação do uso de agrotóxicos; o aquecimento global; o aparecimento de vírus letal. No entanto, todos esses fatores, afetam o planeta, ambiental e economicamente.

Estima-se que a produção mundial de mel é superior a 1.2 milhão de toneladas por ano, a China lidera o mercado. O Brasil é o sexto maior produtor, com 41,5 mil toneladas de mel, e fica atrás dos Estados Unidos, Argentina, México e Canadá, respectivamente, dados de 2011. Nos EUA a diminuição desses insetos causa um prejuízo de 14 bilhões de dólares. Na UE, as abelhas são vitais para contribuir com a agricultura europeia e movimentar 22 bilhões de euros por ano.

Pesticidas - Pesquisadores britanicos da Universidade de Stirling, liderados por Penelope Whitehorn, realizaram uma pesquisa em que expôs colônias em desenvolvimento a níveis dos neocotinoides, em doses comparáveis a que esses insetos são expostos no campo. Ao final, os cientistas constataram que essas estavam entre 8% e 12% menores. Além disso, geraram 85% menos rainhas. Outra equipe de pesquisadores focada em abelhas, dirigida por Mickaël Henry, do Instituto Nacional Francês de Pesquisa Agrícola, realizaram sua pesquisa com microchips ligados ao tórax desses insetos, submetendo-os a uma dose letal de inseticida. O estudo sugere que o pesticida afeta o sistema nervoso dos insetos e interfere no sistema de orientação das abelhas, que não voltaram para suas colméias.

O Ministério da Agicultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) publicaram em janeiro deste ano uma norma que veta, durante o período da floração das culturas, o uso de defensivos agrícolas que contenham imidacloprido, clotianidina, tiametoxan e fipronil, independentemente da tecnologia utilizada.


Em entrevista publicada no Jornal Gazeta do Povo esta semana, o presidente da Confederação Brasileira de Apicultores (CBA) e da câmara setorial do mel em Brasília, José Cunha, revela que “esses agrotóxicos são sistêmicos. A planta se desenvolve e o produto tóxico vai para seiva, pólen, néctar, ficando no solo por até cinco anos. Mesmo na rotação de culturas, continua presente, atingindo o lençol freático. Os polinizadores estão pagando um preço muito alto, é um passivo ambiental ainda incalculável”.

Já a União Europeia anunciou que três neonicotinoides mortais para as abelhas serão proibidos nos países membros durante dois anos, a partir do último mês de julho. São eles: clotianidina, imidacloprid e tiametoxam - presentes em pesticidas fabricados para quatro tipos de cultivos: milho, colza, girassol e algodão. Em abril deste ano, a organização internacional Greenpeace lançou o Bees in Declive, relatório que apresenta dados preocupantes sobre essa diminuição e suas consequências na agricultura em todo o continente europeu.

Nem só de abelha vive a planta... Um consórcio internacional coordenado por Lucas Garibaldi, do Conselho Nacional de Investigação Científica e Técnica em San Carlos de Bariloche, Argentina, revelou em uma investigação com 41 das principais plantas cultivadas nos cinco continentes, que não são as abelhas de colméias, mas os insetos selvagens os responsáveis por polinizarem essas culturas. A principal conclusão é que, apesar das colméias de apicultores ajudarem, provavelmente, elas nunca substituiriam os polinizadores selvagens.

"A sobrevivência humana depende de muitos processos naturais, ou serviços ecossistêmicos, não contabilizados nas pesquisas de mercado", escreve Garibaldi na Science. “A degradação global desses 'serviços' empobrece a capacidade da agricultura em atender às demandas de uma população cada vez mais numerosa”. Polinização por insetos selvagens é um paradigma entre esses serviços dos ecossistemas, e um dos mais vulneráveis, de acordo com os cientistas.


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