Estudos
sugerem que pesticidas sintéticos contribuem para o desaparecimento
de abelhas,
mas não é só isso.
Por
Taís González
Desde tempos
primórdios, o homem utiliza o mel para alimentar-se. Produto cada
vez mais raro e caro no mercado, dado ao misterioso desaparecimento
de abelhas que ocorre no mundo. O fenômeno não é recente, nos EUA,
a "doença" do desaparecimento das abelhas foi
diagnosticada como Colony
Collapse Disorder (CCD), em 2006. As abelhas deixam para trás
cria, mel e tudo o que produzem, sem deixar vestígios.
As abelhas são
responsáveis pela polinização
de milhares de espécies de flores, assegurando o sucesso de inúmeras
colheitas agrícolas. Até agora, não há consenso entre os
cientistas sobre o motivo que teria ocasionado essa desaparição,
mas sim sugestões, como o cultivo de monoculturas e a intensificação
do uso de agrotóxicos; o aquecimento global; o aparecimento de vírus
letal. No entanto, todos esses fatores, afetam o planeta, ambiental e
economicamente.
Estima-se que a
produção mundial de mel é superior a 1.2 milhão de toneladas por
ano, a China lidera o mercado. O Brasil é o sexto maior produtor,
com 41,5 mil toneladas de mel, e fica atrás dos Estados Unidos,
Argentina, México e Canadá, respectivamente, dados
de 2011. Nos EUA a diminuição desses insetos causa um prejuízo
de 14 bilhões de dólares. Na UE, as abelhas são vitais para
contribuir com a agricultura europeia e movimentar 22 bilhões de
euros por ano.
Pesticidas - Pesquisadores
britanicos da Universidade de Stirling, liderados por Penelope
Whitehorn, realizaram uma pesquisa
em que expôs colônias em desenvolvimento a níveis dos
neocotinoides, em doses comparáveis a que esses insetos são
expostos no campo. Ao final, os cientistas constataram que essas
estavam entre 8% e 12% menores. Além disso, geraram 85% menos
rainhas. Outra equipe de pesquisadores focada em abelhas, dirigida
por Mickaël Henry, do Instituto Nacional Francês de Pesquisa
Agrícola, realizaram sua pesquisa
com microchips ligados ao tórax desses insetos, submetendo-os a uma
dose letal de inseticida. O estudo sugere que o pesticida afeta o
sistema nervoso dos insetos e interfere no sistema de orientação
das abelhas, que não voltaram para suas colméias.
O Ministério da Agicultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) publicaram em janeiro deste ano uma norma que veta, durante o período da floração das culturas, o uso de defensivos agrícolas que contenham imidacloprido, clotianidina, tiametoxan e fipronil, independentemente da tecnologia utilizada.
Estilistas, como Vivienne Westwood (centro), protestam em Londres pela proibição de pesticidas que prejudicam as abelhas. Andrew Winning/Reuters.
Em entrevista publicada
no Jornal
Gazeta do Povo esta semana, o presidente da Confederação
Brasileira de Apicultores (CBA) e da câmara setorial do mel em
Brasília, José Cunha, revela que “esses agrotóxicos são
sistêmicos. A planta se desenvolve e o produto tóxico vai para
seiva, pólen, néctar, ficando no solo por até cinco anos. Mesmo na
rotação de culturas, continua presente, atingindo o lençol
freático. Os polinizadores estão pagando um preço muito alto, é
um passivo ambiental ainda incalculável”.
Já a União
Europeia anunciou que três neonicotinoides mortais para as abelhas
serão proibidos nos países membros durante dois anos, a partir do
último mês de julho. São eles: clotianidina, imidacloprid e
tiametoxam - presentes em pesticidas fabricados para quatro tipos de
cultivos: milho, colza, girassol e algodão. Em abril deste ano, a
organização internacional Greenpeace lançou o Bees
in Declive, relatório que apresenta dados preocupantes sobre
essa diminuição e suas consequências na agricultura em todo o
continente europeu.
Nem só de abelha
vive a planta... Um consórcio
internacional coordenado por Lucas Garibaldi, do Conselho Nacional de
Investigação Científica e Técnica em San Carlos de Bariloche,
Argentina, revelou em uma investigação
com 41 das principais plantas cultivadas nos cinco continentes, que
não são as abelhas de colméias, mas os insetos selvagens os
responsáveis por polinizarem essas culturas. A principal conclusão
é que, apesar das colméias de apicultores ajudarem, provavelmente,
elas nunca substituiriam os polinizadores selvagens.
"A sobrevivência
humana depende de muitos processos naturais, ou serviços
ecossistêmicos, não contabilizados nas pesquisas de mercado",
escreve Garibaldi na Science. “A degradação global desses
'serviços' empobrece a capacidade da agricultura em atender às
demandas de uma população cada vez mais numerosa”. Polinização
por insetos selvagens é um paradigma entre esses serviços dos
ecossistemas, e um dos mais vulneráveis, de acordo com os
cientistas.
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